Por Swami Sri Bhaktivedanta Tripurari, extraído de seu próximo livro, Circle of Friends (“Círculo de amigos”, tradução livre), como parte de uma série de artigos sobre Balarāma Tattva.
A idosa mística Paurṇamāsī, envolta em um tecido açafroado¹ e resplandecente como a lua cheia, que dá nome a ela, chegou a Vraja acompanhada do excêntrico garoto brāhmaṇa Madhumaṅgala, que se fazia passar por aluno de Nārada.² Esse aluno, assim como sua idosa companheira, nunca envelhece. Não será ele o brāhmaṇa original do qual Nārada é apenas uma aproximação? Mas não vamos nos afastar muito do tópico em questão.
O momento de sua chegada coincidiu com a gravidez de Yaśodā, um evento pelo qual toda a comunidade de vaqueiros ansiava tanto que foram consumidos por seu laulyam – um anseio como aquele experimentado na longa noite escura da separação da alma de sua fonte. Paurṇamāsī pôs fim a essa escuridão com um insight místico que ela prontamente compartilhou com os vaqueiros: o filho homem de Nanda e Yaśodā que eles desejavam – um herdeiro para o reino dos vaqueiros – já estava no ventre de Yaśodā!
Nessa época, uma auspiciosa mulher grávida chegou discretamente em uma égua preta. Como uma vaca de fartura, ela recebeu o nome do asterismo Rohiṇī, que é retratado como uma vaca avermelhada (aruṇa) que traz o anúncio de uma colheita abundante.³ Essa segunda mãe, trazendo aquele que seria o melhor amigo do próprio filho de Yaśodā, encontrou-se em êxtase com Yaśodā. A camaradagem das senhoras seria superada apenas pelos sentimentos fraternos de seus filhos um pelo outro.
O filho de Rohiṇī apareceu na lua cheia da estação das monções de Śrāvaṇa, oito dias antes do nascimento do Nandana de Yaśomatī. O que dizer sobre sua aparência, quando as palavras não conseguem captar a plenitude nem mesmo de eventos comuns? Embora as palavras não consigam fazer justiça, não ficamos em silêncio. Ele próprio vinha de muito além do silêncio meditativo, sobre o qual não se pode dizer o suficiente. De compleição cristalina, como a luz do sol refletida na lua cheia, esse menino nasceu para dar alegria ao filho de Yaśodā, para refletir sua luz e torná-la acessível, assim como o guru faz em relação a Deus.
Talvez a coisa mais surpreendente sobre seu nascimento tenha sido o fato de que, apesar de sua beleza e outras qualidades auspiciosas, ele estava, para todos os efeitos, inconsciente do mundo ao seu redor. Somente quando Yaśodā o pegou no colo e ele pôde sentir seu irmão dentro de seu ventre é que ele ganhou vida, e somente depois que seu filho, Kṛṣṇa, nasceu é que essa peculiaridade diminuiu. Seu nome é Rāma – Balarāma – e ele é o melhor amigo e irmão mais velho de Kṛṣṇa. Embora ele seja a personificação de sakhya-rasa, ele é viṣṇu-tattva, não śakti-tattva. Os dois, Rāma e Kṛṣṇa, são respectivamente sevaka e sevya–bhagavān.
A beleza de Balarāma não tem limites. Seus pés são macios como lótus, seus braços longos e fortes tem mãos que alcançam seus joelhos, seu peito largo é ornamentado com uma guñjā-mālā, e seu cabelo escuro é amarrado em um coque rodeado por uma abundância de flores da floresta. Sua tez é clara e branca como o reflexo do luar.
Ele é o Bhagavān de um estado de espírito amigável: às vezes serve, enquanto em outros momentos está preocupado com o comportamento de seu irmão mais novo. Os sábios o chamam de Baladeva. Poderoso, espirituoso, sábio e bem vestido de azul da meia-noite, ele usa uma tilaka feita de almíscar, de tonalidade escura. Seu único brinco beija sua bochecha, e um lótus rodeado de abelhas decora sua orelha. Ó Balarāma, de voz profunda, quando ouvirei seu chamado para servir – o som de seu berrante de chifre de búfalo?
Notas de rodapé
¹ No Gopāla-campū, Jīva Goswāmī veste Paurṇamāsī de açafrão, apesar de ela ter o nome da lua cheia e do fato de Rūpa Goswāmī cobri-la de branco no Rādhā-kṛṣṇa-gaṇoddeśa-dīpikā.
² Gopāla-campū 2.36.42 afirma: “Madhumaṅgala é a contraimagem de Nārada com uma natureza brincalhona”. No Caitanya-caritāmṛta 2.14.229, também encontramos Śrīvāsa no humor de Nārada, agindo como Madhumaṅgala. Assim como svayam bhagavān manifesta expansões de si mesmo para līlās fora de Vraja, o mesmo acontece com seus associados, como Madhumaṅgala na forma de Nārada. Em līlā e bhāva, Madhumaṅgala é o discípulo de Nārada, enquanto que, da perspectiva de tattva, ele é a fonte de Nārada.
³ Aruṇa – marrom avermelhado/ferrugem – é a cor de sakhya-rati. A égua preta mencionada na frase anterior revela a fuga noturna de Rohiṇī de Mathurā para Vraja.
(Artigo original em https://harmonist.us/2023/08/balarama-the-birth-of-sakhya-bhava/)
Traduzido por Vraja-lila dd e revisado pela equipe do site.