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Evolução e Criação nos Vedas

Pergunta: A teoria de Darwin parece ter muito sentido para a maioria das pessoas. Quais são as objeções do Gaudiya Vaisnavismo às teorias de Darwin sobre a evolução da espécie humana?

Resposta: Nossa principal objeção à evolução darwiniana é que nela a consciência é vista como um produto da matéria. Não podemos concordar com esta proposta, a qual não faz muito sentido em termos de evidência verificável. Onde vemos a consciência surgir da matéria inerte? Qual experimento científico pode provar que isso ocorre? Nossa teoria é que a matéria evolui da consciência – a consciência suprema. De toda forma, nós reconhecemos a evidência para algum tipo de evolução. Os hindus eram evolucionistas muito antes de Darwin. As escrituras hindus ensinam que as várias formas de vida existem conceitualmente dentro de Deus e evoluem da matéria em conjunção com os desejos das almas “karmicamente” condicionadas. Dessa forma, o corpo material evolui com base no desejo ou necessidade da jiva (a alma ou ego individual). Por exemplo, quando o desejo ou a necessidade de ver surge na jiva, o olho é manifesto. Diz-se que Brahma é a primeira alma e o repositório de todas as outras jivas, que sob sua direção evoluem para cima através da vida aquática, vida vegetal, etc. Curiosamente, Bhaktivinoda Thakura deu uma palestra sobre a evolução da matéria através do modo da bondade na British-Indian Society. Ele também analisou o Dasavatara Stotram (Dez Encarnações de Visnu) em termos de evolução. Em sua opinião, a concepção dasavatara quase se assemelha à noção “purânica” de evolução da vida aquática para cima: Matsya (peixe), Kurma (anfíbio), Varaha (animal terrestre), Narasinga (animal e homem), etc.

Pergunta: E sobre a teoria do Big Bang ou a ideia de que o universo está se contraindo e se expandindo, as escrituras têm algo a dizer?

Resposta: A noção escritural hindu sobre o mundo se expandindo e contraindo em ciclos perpétuos, sem começo ou fim no tempo, não contradiz o pensamento científico moderno. As mesmas observações que apóiam a teoria do big bang também apóiam a teoria de que o chamado bang não tem início no tempo e resulta em uma expansão do universo ao longo de trilhões de anos – até atingir um ponto de retorno e contrações, apenas para ser expandido de novo, repetindo isso infinitamente. O astrofísico Paul Steinhardt apresentou uma explicação cientificamente confiável chamada teoria do universo cíclico, que procura explicar falhas recentemente descobertas na teoria atual da origem e evolução de todas as coisas conhecidas. Entre outras coisas, a teoria do big bang não explica o “começo dos tempos”, as condições iniciais do universo, ou o que acontecerá em um futuro distante. No modelo de Steinhardt, espaço e tempo existem para sempre, e o big bang não é o início do tempo, mas sim uma ponte para uma era de contração preexistente. A teoria do universo cíclico tem raízes em ideias ainda mais complexas, como a chamada teoria das supercordas, que sugere que existem muitas dimensões espaciais, não apenas as três que conhecemos. Vários teóricos acreditam que a física aparentemente inexplicável de um big bang e um big crunch, ou contração subsequente do universo, deve ser explicada com a ajuda dessas dimensões extras, que de outra forma são invisíveis para nós.

Tais especulações cientificamente críveis sobre dimensões invisíveis deixam espaço para legitimar racionalmente a realidade ontológica de pessoas como Brahma e seu nascimento do lótus, que de outra forma são consideradas meramente como mitologia. Talvez seu canto do Gopala mantra possa ser interpretado como o Big Bang. Afinal, aqueles na comunidade científica que abraçaram a teoria das supercordas descrevem o mundo poeticamente como um concerto de vibrações musicais, uma canção na mente de Deus.

Pergunta: O Bhagavad-gita afirma que a vida está em toda parte (sarva-gatah) e a literatura védica fala de semideuses e outros seres desfrutando da vida em outros planetas, incluindo a lua e Marte. Existe uma explicação védica de por que a ciência não pode encontrar evidências de vida na lua e em Marte?

Resposta: Quando as escrituras védicas falam de planetas nos quais existem formas de vida superiores, elas estão falando mais dos planos mentais e intelectuais macro cósmicos de experiência do que dos planetas que vemos no céu com nossos sentidos físicos. Embora os sábios tenham reconhecido alguma correspondência entre os dois, quando eles falam em alcançar outros planetas, descrevem um caminho para tomar que é muito diferente dos meios tecnológicos. Assim como existe um plano físico de experiência em que os sentidos são predominantes, da mesma forma existem planos de experiência em que a mente ou inteligência são predominantes (bhur bhuvah svah). No plano físico, não podemos vivenciar todos os nossos sonhos. Aqui podemos ver ouro e uma montanha, mas não uma montanha dourada. No plano mental, no entanto, podemos experimentar uma montanha dourada e muito mais. Assim, a mente é um plano de experiência particularmente ativo à noite, quando o plano físico, nossa experiência sensorial, é desligado. Assim, ela é identificada com a lua, a luz da noite, que se diz presidir a mente e o desejo, em oposição à razão – chandrama manaso jathah. A lua também é identificada com o céu, que em certo sentido é a terra dos sonhos, onde todos os nossos desejos materiais podem ser realizados. No plano celestial da mente, existem possibilidades que não existem no plano físico, e ali pode-se habitar e desfrutar de prazeres celestiais quase ilimitados. No entanto, é tudo uma fantasia em certo sentido porque isso não dura. Nossos sentidos dependem dos aspectos do cosmos, a fim de funcionar e nos trazer prazer. Por exemplo, para ver com os nossos olhos, dependemos da luz do sol. Os sentidos não são nossos em todos os aspectos e, reconhecendo sua dependência de aspectos da natureza, vivemos sensualmente, mas com atenção plena. Isso, por sua vez, permite que o ser experimente maior prazer material no reino mental celestial sem ter que sofrer tantas reações “kármicas” negativas depois de deixar o corpo material atual. Assim, os meios para ir para os reinos celestes envolvem relativamente um pouco de controle dos sentidos. Tudo o que é necessário é que, enquanto desfrutamos dos objetos dos sentidos, reconheçamos as divindades e os aspectos do cosmos que presidem os sentidos. Em termos védicos, isso é chamado Yajna, ou sacrifício.

Viver dessa maneira é viver com uma sensação de gratidão e compreensão de como o universo funciona. Acima do plano mental está o plano intelectual alcançado por sadhana (prática espiritual). O minguante da lua é o símbolo do minguante da mente, pois a oscilação da influência da mente deve ser eliminada. Toda prática espiritual é direcionada para isso em seus estágios iniciais. Tal prática é inicialmente direcionada pelo intelecto purificado derivado de santos e escrituras. O intelecto, ao contrário da mente, traz certeza em vez de fantasia. Macroscopicamente, os sábios que têm mentes e sentidos controlados habitam o plano do intelecto. Eles vivem em samadhi aguardando a liberação. Tais santos não têm desejo de prazer dos sentidos por causa do conhecimento e insight místico que possuem. Eles controlaram suas mentes e, portanto, seus sentidos também e, ao fazê-lo, chegaram mais perto de si mesmos e de Deus.

Portanto, não devemos nos preocupar se a sonda de Marte retorna à Terra sem evidências de vida, pois por mais incrível que seja ter ido lá tecnologicamente, os envolvidos não foram para um planeta superior no sentido em que as escrituras védicas falam sobre fazer isso. Por mais interessante que seja a perspectiva de ir para outros planetas ou experimentar reinos mais elevados de prazer material, devemos sempre estar mais preocupados com o sadhana. Sadhana e a graça dos santos é infinitamente mais importante do que ir a Marte.

(Artigo original em http://swami.org/articles/?post=evolution-and-creation-in-the-vedas )

Traduzido por Pranavananda das e revisado pela equipe do site.

Posted in Cosmologia, Visão védica