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Yoga e razão

Atualmente existem várias nuances da filosofia básica do materialismo, todas elas vendo o mundo como nada mais do que forças físicas interagindo. Refiro-me a elas coletivamente como materialismo redutivo. Em oposição ao materialismo redutivo estão as visões de mundo que reconhecem a influência causal de uma mente e consciência imateriais. Acho que se a razão deve prevalecer, vencem as visões de mundo não redutivas que defendem a posição de que nossos pensamentos influenciam nossas ações e, portanto, têm eficácia causal no mundo e que o próprio mundo é inerentemente significativo. Permitam-me que raciocine brevemente o porquê.

Um dos problemas com o materialismo redutivo é que diz que “relações de causa e efeito” governam tudo. No mundo material, tudo o que acontece, todo efeito, está diretamente relacionado a uma causa física. Um exemplo de tais relações de causa e efeito é “O iogue está doente hoje porque comeu suntuosamente ontem”. Aqui, “porque” indica a relação de causa e efeito: comer o adoeceu. Agora, quando abraçamos a ideia de que o mundo é inteiramente baseado em relações de causa e efeito, isso significa que tais relações são tudo o que acontece no cérebro, um objeto físico.

No entanto, para que o raciocínio ocorra no cérebro, o cérebro deve ser o local das “relações fundamentais” e não apenas relações de causa e efeito. Como assim? Por que o raciocínio envolve fundamentos/premissas a partir dos quais uma conclusão ou crença alcançada é a consequência da premissa declarada. Se a premissa é verdadeira, então a conclusão também é verdadeira por uma questão de lógica e, portanto, temos um argumento válido. Conclusões racionais são o resultado de certas evidências. Acreditamos em algo por causa de alguma evidência que apoia nossa crença. A evidência é o fundamento com base no qual inferimos ou raciocinamos quanto à nossa convicção. Um exemplo de tais relacionamentos de base é: “O iogue deve estar doente hoje porque ainda não se levantou (sabemos que ele é invariavelmente um madrugador quando está bem)”. Aqui, nosso raciocínio sobre por que o iogue acordou tarde é baseado na premissa de que, quando está de boa saúde, o iogue sempre acorda cedo. O raciocínio que dá origem à nossa crença é baseado na premissa. Nós raciocinamos que, como o iogue sempre acorda cedo quando está de boa saúde, ele deve estar doente porque hoje não acordou cedo.

Como vimos, a racionalidade depende de premissas serem vistas como fundamentos para conclusões/crenças consequentes. Por outro lado, no materialismo redutivo, todo pensamento que temos é considerado resultado de uma causa física ou ambiental, em vez de surgir de qualquer fundamento racional. Os neurônios disparam e os pensamentos seguem, ou assim pensam alguns. Como tal, porque o materialismo redutivo exige que neguemos que nossos cérebros funcionem em termos de relações de consequências- fundamentos, e postula que o mundo procede apenas com base em relações de causa e efeito, esse materialismo redutivo também exige que abandonemos a ideia que somos criaturas verdadeiramente racionais. Se tudo o que temos é um cérebro para raciocinar, não temos nenhum poder de raciocínio. Dado que nos engajamos no raciocínio consequente, como estou fazendo aqui, a própria razão não deve estar localizada no cérebro ou em qualquer outro objeto puramente físico. Este argumento foi levantado pela primeira vez por C.S. Lewis.

Também podemos raciocinar ainda que, se o mundo procede apenas com base nas relações de causa e efeito, não há base objetiva para diferenciar as ações corretas das erradas. Aquilo que ocorre no mundo não tem qualquer “obrigação”. As forças físicas interagem e esse é o fim da história, por mais inacreditável que seja. Some a isso o fato de que, assim como não existe uma maneira objetivamente correta de agir, também não existe uma forma correta de pensar. Negar valores cognitivos objetivos implica a conclusão absurda de que a ideia de que devemos evitar a autocontradição no discurso é meramente uma preferência pessoal. Assim, a razão novamente não tem lugar dentro do materialismo, pois se o materialismo deve ser consistente, ele destrói a própria ideia de racionalidade. É claro que as pessoas de alguma forma raciocinam e tentam determinar a melhor maneira de agir. Como tal, dentro do materialismo se acredita que as pessoas criam significado em um mundo onde, objetivamente falando, não há nada. Exatamente como o cérebro faz isso, não se tem certeza

Alguns postulam que raciocinamos com uma mente que deriva de nosso cérebro físico, mas que essa mente e seu raciocínio, por sua vez, não têm influência em nossas ações, uma posição bastante contra-intuitiva. E tais teorias ainda tornam a razão, em última análise, sem sentido pois postulam que ela não tem eficácia causal. Mais uma vez, em tais teorias, o mundo procede inteiramente com base nas relações de causa e efeito, e embora o raciocínio possa ocorrer em uma mente que emergiu do cérebro físico, seus pensamentos não têm importância. O problema aqui, claro, é que tais teorias negam à razão o poder de ponderar conclusivamente sobre qualquer coisa, enquanto a veracidade do materialismo depende do raciocínio conclusivo sobre o que é observado.

Em contraste, visões de mundo não redutivas, como aquelas que encontramos na filosofia do yoga postulando que mente e consciência não são derivadas do físico, deixam espaço para que a razão seja o que todos nós supomos que seja em nosso discurso diário. Ela é mais do que meras forças físicas interagindo, ou o local de convicções que não têm relação com o curso dos eventos em um mundo onde cada evento já é determinado por uma cadeia de causas e efeitos físicos.

(Artigo original em http://swami.org/articles/?post=yoga-and-reason)

Traduzido por Prananvananda das e revisado pela equipe do site.

 

Posted in Materialismo reducionista

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