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Diksa, Siksa e Sri Guru

Rupa Goswami começa sua delineação dos angas (membros) de sadhana-bhakti da seguinte forma:

gurpadasrayas tasmat krishna diksadi siksanam

Deve-se tomar abrigo em sri guru, receber dele diksa e siksa.

Assim, primeiramente devemos sentar com o guru, escutar e observá-lo enquanto ele simultaneamente nos observa. Então diksa acontece, e depois é ainda apoiado por siksa. Enquanto o diksa e o siksa gurus são um em propósito, o sastra nos diz que suas funções são diferentes. O diksa guru transmite o mantra, dentro de qual está contida a nossa relação com Krishna na forma de semente. O siksa guru ou gurus regam a semente com instruções relevantes.

No caso clássico, o diksa guru é também o siksa guru e ele atua no papel mais importante na vida espiritual do discípulo. É possível, porém, que um siksa guru diferente do diksa guru possa ocupar o papel mais proeminente na vida espiritual de um discípulo, especialmente se o siksa guru é mais qualificado que o diksa guru. O último caso é exemplificado na vida de Thakura Bhaktivinoda, onde seu siksa guru, Jagannatha dasa Babaji, atuou em um papel mais importante que seu diksa guru, Bipina Bihari Goswami.

O Diksa guru é uma manifestação da vigraha de Madana-mohana no sentindo em que ele dá sambandha-jnana na forma de diksa, sobre o qual a deidade de Sri Madana-mohana preside. O sambandha-jnana é um. Envolve a orientação conceitual à visão de mundo metafísica Gaudiya Vaishnava e inclui a transmissão do diksa mantra. Parte dessa visão de mundo é o conhecimento do relacionamento da pessoa com Krishna. De novo, isso está presente no mantra. Então o transmitir do mantra é comparado ao plantar de uma semente. A semente é singular, não há necessidade de plantá-la duas vezes.

Ainda assim, a semente deve ser cultivada, e portanto há a necessidade de siksa. O siksa guru é uma manifestação de Govindadeva, a deidade que preside abhidheya-jnana, ou o conhecimento pertinente ao cultivo da semente. Enquanto sambandha-jnana envolve uma orientação conceitual, abhidheya-jnana envolve aquilo que naturalmente segue a orientação: a atividade subsequente, que nesse caso é bhakti.

De certa forma os exemplos clássicos dessas duas manifestações de guru em nossa tradição são Sri Sanatana e Rupa Goswamis. Sanatana Goswami escreveu o Brhat-bhagavatamrta, uma orientação conceitual ao mundo do Gaudiya vaishnavismo. É uma estudo da paisagem interior que nos orienta ao mundo de possibilidades espirituais tendo em conta a nossa posição presente. Rupa Goswami, por outro lado, escreveu o Bhakti-rasamrta-sindhu, que delinea a natureza de bhakti, ou a atividade que naturalmente segue sambandha-jnana.

O sambandha é estático, enquanto abhideya é dinâmico. Por exemplo, o que o mundo é, o que a jiva é, o que Deus é, e como eles se relacionam não muda. Isso é sambandha-jnana. Como cultivar bhakti, enquanto único em conceito, varia em relação a detalhes.

Os dois gurus são um no sentido que eles representam Krishna completamente. Madana-mohana e Govindaji são um. Os dois gurus são diferentes, porém, em relação às suas funções. Novamente, a função do diksa guru é única. Ele dá o mantra. A função do siksa guru, por outro lado, é plural, ele dá instruções. O siksa guru rega a semente única, e mais de um siksa guru pode executar essa função.

É claro que uma pessoa pode perguntar legitimamente: “A transmissão de instruções sobre sambandha-jnana não é também uma forma de siksa?” A resposta é obviamente “sim”, que, enquanto aumenta o significado de siksa para incluir tais instruções, restringe o significado de diksa à transmissão do mantra propriamente dita – que não é pouca coisa. Srila Sridhara Deva Goswami descreve a transmissão do mantra da seguinte forma: “Assim como em um glóbulo homeopático a aparência externa não mostra qual remédio está ali, assim é com o som – o nome de Krishna. Aquele que entrega isso, sua vontade está ali dentro. Então Krishna, da boca de um sadhu, e o Krishna da boca de uma pessoa comum não são o mesmo. O que a ideia por trás desse som é, de onde ele vem, sua origem, é em Vaikuntha, em Goloka, em qual rasa, e assim por diante? Gradualmente o som vai te levar lá, para esse lugar. O som, Vaikuntha nama grhanam, o nome deve vir do mundo infinito, não de uma origem mundana.”

 

(Artigo original em http://swamitripurari.com/2010/02/diksa-siksa-and-sri-guru/)

Traduzido pela equipe do site.

Posted in Bhakti Tattva, Guru Tattva